Emídia Aguar descerra a placa de inaugurção do Estádio Julio Aguar 1 de maio de 1962. Foto: reprodução | Rede Hoje 

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ustáquio Amaral | Primeira Coluna 

Maio. O quinto mês do calendário gregoriano é dedicado à deusa Maia (da terra e das flores). Tem muito a ver com a qualidade da terra patrocinense. Assim, como homenagem, a recordação de acontecimentos em Patrocínio, em maio, é bem-vinda. Tal como a inauguração do 4º maior estádio de Minas, então. Também o auge da Praça da Santa Luzia (hoje, aviltada por “caixotinhos”), a presença de pesquisadores famosos, que vieram conhecer o dialeto (patrocinense) da Kalunga, e, o recordista, que compareceu em 68 romarias à Água Suja, ininterruptas. E outras cenas populares do cotidiano de outrora.


O então vigário da cidade, padre Lamberto, dá as bênçaos no gramado do estádio. Foto: reprodução | Rede Hoje 

1962: UM DIA HISTÓRICO – Dia 1º de maio de 1962, uma terça-feira, Dia do Trabalhador, portanto há 63 anos, perante mais de 5 mil pessoas, a Sra. Emidia Aguiar, mãe do prefeito Enéas Ferreira Aguiar e do (falecido) desportista homenageado Júlio Aguiar, descerrou a placa do Estádio. Assim, estava inaugurado o estádio, então, o mais moderno da região.

PATROCÍNIO VERSUS PODEROSO AMÉRICA – A antológica Seleção de Patrocínio entrou em campo com Dedão, Gato, Calau (capitão), Macalé e Manoelico; Rubinho e Peroba; Totonho, Dizinho, Romeuzinho e Ratinho (Nael). Um time ofensivo, sob o comando de Véio do Didino. O América de BH com seis jogadores da Seleção Mineira (Décio Teixeira, Hilton Chaves, Marco Antônio, Zuca e Ari).

COMO FOI O JOGO – A partida encantou a plateia, composta de autoridades e pessoas bonitas, sobretudo as meninas-moças. Os patrocinenses jogaram de igual para igual com o fortíssimo América, de então. Entretanto, o placar final favoreceu à equipe de Belo Horizonte. Manoelico (lateral esquerdo) marcou o gol da Seleção de Patrocínio, um time puramente amador e de patrocinenses, comandado pelo legendário Véio. Manoelico depois se tornou vereador.

Momentos antes da inaguração do Estádio Júlio Aguiar. Foto: reprodução Rede Hoje

1963: CINEMA – O luxuoso Cine Patrocínio apresentava muitas emoções no final de semana. Sábado, dia 25 de maio, o (eterno) Rei do Rock, Elvis Presley, no filme “Coração Rebelde”, em cinemascope (nova técnica de tela inteira), em duas sessões, às 18h15min e 20h30min. No domingo, dia 26 de maio, Doris Day, Rex Harrison e John Gavin protagonizaram o surpreendente “A Teia de Renda Negra”. (O Cine se situava na Praça Santa Luzia e pertencia à família Elias).

Praça Santa Luzia, no dia 30 de abril de 1962. Foto: reprodução Rede Hoje

AINDA MAIO/1963: CENAS INESQUECÍVEIS – O vaivém (desfile circular das meninas moças perante aos seus estáticos adolescentes admiradores) acontecia nas noites de sábados, domingos e feriados, entre 19 e 21 horas. O serviço externo de som do Cine Patrocínio fazia o fundo musical na Praça Santa Luzia. Entre as músicas mais tocadas e ouvidas estavam “La Paloma”, “Aquarela do Brasil”, “Quando Setembro Vier” e outros sucessos com a orquestra de Billy Vaughn; “Besame Mucho” com a orquestra de Ray Conniff; “Normalista” com Nelson Gonçalves e “Perfume de Gardênia” (e outros boleros) com o cantor cubano Bienvenido Granda. Momentos bonitos e indeléveis que jamais se apagaram da memória daquela gente formosa e saudável de outrora (hoje, em torno de 70/75 anos de idade). Nesse cenário, era anunciado em cartazes o filme “Desafio à Corrupção” com Paul Newman (posteriormente, em Nova Iorque, este super astro, tornou-se amigo do patrocinense João Borges Alves, nos anos 80/90). A exibição estava programada para o dia 30 de maio, em duas sessões.

1965: MARCO DOS ANOS DOURADOS “Foi iniciada a reforma total das dependências da Churrascaria Alvorada. Lúcio Ribeiro (Casa Ribeiro) com o seu bom gosto promete uma pintura sóbria e agradável para o salão de visitas da cidade.” É o que dizia o cronista-radialista Sérgio Anibal (hoje, empresário em Salvador/BA) em sua coluna social “Passarela”, de 30 de maio de 1965, publicada no então “Jornal do Comércio” (diretor: Leonardo Caldeira) e na “Gazeta de Patrocínio” (de Sebastião Elói).

1978: MANCHETES E O “ZÉ MENDES– A Rádio Difusora, a Gazeta de Patrocínio e o Jornal de Patrocínio defendiam ardorosamente a indicação de um patrocinense para candidato a deputado estadual. XXXX O Expresso União inaugurava a linha de ônibus Montes Claros-Patos de Minas-Patrocínio-Uberlândia. XXXX O incrível José Mendes (aposentado do Fórum, sogro do ex-atleta Gulinha do CAP-63, falecido nos anos 90), então nos seus 86 anos de vida, continuava pedalando sua bicicleta pela cidade e preparando sua 68ª romaria ininterrupta à festa de Nossa Senhora da Abadia (Romaria). Um recorde. Zé Mendes foi focalizado algumas vezes pelos jornais de BH. XXXX Telemig (empresa de telefonia fixa) instalava 2.080 terminais telefônicos e o sistema DDD (Discagem Direta à Distância), a grande novidade em Patrocínio (celular apenas surgiu 20 anos mais tarde).

Seleção de Patrocínio entrou em campo com Dedão, Gato, Calau (capitão), Macalé e Manoelico; Rubinho e Peroba; Totonho, Dizinho, Romeuzinho e Ratinho (Nael). Foto: reprodução Rede Hoje

1979: SONHO QUE NÃO ACABOU – O Governo do Estado sinalizava a agroindústria para a região de Patrocínio. A “Primeira Coluna”, do Jornal de Patrocínio, demonstrara com argumentos técnicos que o Município tinha todas as condições para a implementação. E mais, era a principal alternativa rumo ao progresso patrocinense.

1980: KALUNGA, COMUNICAÇÃO DOS ESCRAVOSNos meados de maio, os escritores e pesquisadores Carlos Vogt (Unicamp) e Peter Fry (UFRJ) visitaram Patrocínio, em companhia do intelectual patrocinense, residente em São Paulo, Gerson de Oliveira (falecido acerca de vinte anos, membro da Academia Patrocinense de Letras, era considerado uma das mais brilhantes inteligências rangelianas). O objetivo da visita era estudar a presença do dialeto calunga, de origem africana. Entre os entrevistados pelos três escritores estavam José Delfino – “Cabrera” (pai da folclórica torcedora do CAP, Denga), filho adotivo da líder negra Dona Liquinha, especialista na calunga. E mais, Inácio Francisco de Souza (Inácio Verdureiro, pai do colunista/escritor Cecílio de Souza), Joaquim Ferreira (lavrador), jornalista e historiador Sebastião Elói, José Astrogildo e o lavrador Ildefonso (em dezembro de 1996, a pesquisa foi transformada no livro “Cafundó, a África no Brasil”, editado pela Unicamp. A obra merece ser consultada.)


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